sábado, 5 de junho de 2010

CAIM




Caros,

quem ainda não leu, recomendo seriamente, que leia a obra literária "CAIM", do ilustre escritor lusitano, JOSÉ SARAMAGO (Prêmio Nobel de Literatura 1998). A leitura de Saramago, seja pela crítica insofismável, seja pela escrita não-convencional (de brincar com pontos), divide os leitores em três lados: os que adoram, os que rejeitam e os que não entendem.

Minha primeira leitura de Saramago foi "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", seguindo para "A Caverna", depois li "Ensaio Sobre a Lucidez", para então ler "Ensaio Sobre a Cegueira", passando a peça teatral "In Nomine Dei", e agora, "Caim". Ganhei "As Intermitências da Morte" de dois amigos, Paulinho e Israel, mas ainda não li. Lerei.

É impressionante a maneira como Saramago consegue questionar o "inquestionável" a partir da própria Bíblia. A leitura que ele faz do livro do antigo testamento é, simplesmente, extraordinária. O problema é que, para compreender, temos que nos libertar dos grilhões invisíveis passados de geração para geração sem dúvidas, pois somos domesticados para crer em certos dogmas (im)postos e que nos deixa em total obscuridade. Nem penumbra é. Contudo, contemporâneamente, mesmo estando sob a luz, estamos cegos e não conseguimos enxergar. Ou melhor, não queremos questionar porque o comodismo é cômodo (aqui a redundância é proposital). Só que com ele, permanecemos exatamente onde estamos.

A crítica trazida pelo livro, duvidando dos desígnios de Deus e da própria palavra de Deus, em meio a um jogo (a)temporal, no qual Caim é um apenas um peão, mostra que os questionamentos devem ser feitos constantemente, ainda mais sobre as questões perenes. As dúvidas servem para pensar! Mas como dizia o velho professor angolano "trabalhar cansa, e pensar dói"...

O "estigma" de Caim é algo que podemos trazer para questionar o (nosso) senso (comum) de Justiça, diante das barbaridades (em seus dois sentidos, o tradicional de barbárie, e o gaúcho de incrédulo diante de alguma situação) vivenciadas pelo personagem. Nas dúvidas e nas questões feitas ao seu "eu" interior é que reside a maestria de Saramago nessa obra.

O dogma (im)posto pode se afeiçoar ao Direito Penal, com suas prescrições e proscrições inefáveis. Ora bolas! Devemos questionar sim. Não aceito o que está aí e ponto. Ainda mais em se tratando de um discurso sedutor acrítico que tem sede de sangue e vingança, tal qual a política criminal tolerância zero. Temos que saber o porquê. E se o porquê não for satisfatório, utilizemos a hermenêutica (ferramentada de interpretação colocada a nossa disposição) para dar um sentido adequado ao significado daquilo que era imposto, pois posto está, ou posto será. Ciência. Teoria crítica.
O eterno embate entre Ciência e Religião pode ser assim sintetizado (correndo o risco da limitação das palavras): "Teria de chegar o dia em que alguém te colocaria perante a tua verdadeira face".

Boa leitura e bom domingo, até porque, "eu sou Caim, aquele que [apenas] matou Abel".


Prof. Matzenbacher